Questões femininas protagonizam simpósio no XI Enecult

Simpósios XI ENECULT

Foto de Matheus Buranelli

A ascensão das mulheres a importantes cargos da administração pública, do mundo dos negócios, e do parlamento, em diferentes países e contextos culturais é considerada como algo legítimo do percurso marcado pelas lutas feministas e as conquistas de direitos pelas mulheres nas últimas décadas. Porém, mesmo com uma participação mais ativa e autônoma destas mulheres, a inserção é cercada de estratégias paradoxais de afirmação e negação da igualdade entre os gêneros.

Consoante a essa demanda social de modificação da cultura política e aos desafios enfrentados pelas mulheres para legitimar sua entrada e permanência no espaço público, o Simpósio “Os desafios da mulher contemporânea na cultura do espaço público: estratégias de inserção e relações de poder”, foi realizado na manhã, desta quinta-feira, 13, no auditório II, PAF I da Universidade Federal da Bahia (Campus Ondina), sob coordenação da professora da UFBA Linda Rubim e contou com uma significativa presença de público, formado em sua maioria por professores, pesquisadores e interessados na temática.

A pesquisadora do Pós-Cultura/UFBA, Fernanda Argolo diz que: ”o simpósio é resultado das reflexões do grupo de pesquisa da UFBA Miradas- Gênero, Cultura e Mídia sobre os avanços da mulher no espaço público, pensando de que modo esse avanço pode promover a alteração de estruturas sociais que ainda restringem a individualidade da mulher na sociedade”.

Para a convidada, professora da Universidade de Brasília (Unb), Flávia Biroli, a posição desigual de mulheres e homens nas relações de poder não é um problema que se encerra nele mesmo, permite a adoção de um ponto de vista privilegiado para a análise da democracia. “Espaço de convivência entre abordagens muito distintas, com orientações teóricas e políticas divergentes, o campo das teorias políticas feministas apresenta ao menos duas premissas que vejo como um solo comum das críticas da democracia que nele se produzem pela adoção desse ponto de vista. Uma delas é que o que se passa nos espaços definidos como privados e domésticos é significativo para a análise da democracia. A segunda premissa que destaco é que a posição concreta dos indivíduos nas relações de poder, consideradas as formas que essa posição assume na vivência cotidiana, que é a base para a discussão sobre direitos”, pontua Flávia Biroli.

A professora acrescenta ainda: “Tendo em mente os caminhos que assim se constroem para a crítica, duas dimensões me parecem fundamentais para a compreensão da posição desigual das mulheres nas sociedades ocidentais hoje. A primeira corresponde à divisão sexual do trabalho e pode ser pensada como dimensão estrutural das relações de gênero nas suas formas contemporâneas. A segunda corresponde às formas, certamente heterogêneas, da construção do “feminino”, que pode ser pensada como uma dimensão ideológica. Na socialização de gênero e os estereótipos que orientam julgamentos cotidianamente e estimulam comportamentos considerados desviantes, compreendo três aspectos: a fusão entre a mulher e a maternidade, o sexismo e a dupla moral sexual e os dispositivos da beleza”.

Aspectos relacionados aos sistemas políticos, ao funcionamento dos partidos e das instâncias políticas representativas podem ser relevantes para a compreensão da sub-representação das mulheres na política institucional. A Secretária de Políticas para Mulheres do Estado da Bahia, Olívia Santana (ex-vereadora de Salvador), avalia que a disputa eleitoral é muito díspare com as mulheres, de modo geral. “Representamos 52% do eleitorado em nosso estado, mas elegemos pouquíssimas mulheres. O financiamento das campanhas também é muito desigual. Estamos na Secretaria nos preparativos para 4ª Conferência Estadual de Políticas para as Mulheres, que neste ano o tema é “Mais direitos, participação e poder para as Mulheres”. Então, convido a universidade a participar, a convocar uma conferência livre, pois considero este espaço, a academia, local para debate de ideias, para uma abordagem mais crítica e de enfrentamento das dimensões de que tratei aqui, senão as mulheres continuarão numa posição bastante desigual relativamente aos homens”, conclui Olívia.

Além das expositoras compuseram a mesa: Maria Quitéria (Presidente da UPB – União dos Municípios da Bahia e Prefeita de Cardeal da Silva [BA]); a Deputada Estadual Neusa Cadore (ex-Prefeita de Pintadas [BA] e presidente da Comissão de Autonomia Econômica das Mulheres da Assembleia); a professora da UFBA e Coordenadora do Núcleo de Estudos e Pesquisas da Juventude – NPEJI-UCSAL/CNPq, Mary Castro e a professora e pesquisadora do Núcleo de Estudos Interdisciplinares sobre a Mulher (Neim), Sonia Jay Wright.

O Simpósio Os desafios da mulher contemporânea prossegue até amanhã, 14/08, com o tema: “Participação da mulher no espaço público contemporâneo: uma nova cultura?” e expositoras: Lúcia Avelar (USP/Unicamp) e Salete Maria da Silva (UFBA).

Texto de Jamile Souza