Por Bruno do Vale Novais
Qual é o meu lugar de fala? Essa expressão tornou-se corriqueira nas argumentações acadêmicas da contemporaneidade, principalmente em meio aos espaços de análise dos discursos, das comunicações e das culturas que defendem propostas de descolonização cultural. Nesses, os vocábulos em tela têm sido utilizados como uma espécie de “grito de guerra” para advogar que o pensamento da dita civilização ocidental é colonizante, imperialista e eurocêntrica.
É muito sensato pensar em meu lugar de fala. Mas, é mais importante, sobretudo, pensar nos meus lugares de escuta e nos meus lugares de conversa. Ciente que sou um acadêmico em formação – um aluno pesquisador do curso de doutorado, que estuda diplomacia cultural do Estado brasileiro na atualidade – ainda não me sinto à vontade para exercer o meu lugar de fala na própria universidade. Não conheço a fundo os pormenores da formação e organização da universidade no país, mas sinto – com pesar – que há uma hierarquização das falas, das escutas e do poder no que concerne aos seus emissor e receptores.
Precisamos descolonizar as escutas nos meios acadêmicos. Sinto-me integrante de uma nova geração de pesquisadores a qual têm ânsia de expor o que realmente pensa a respeito de seus objetos de estudos, da política, da sociedade, da cultura, da universidade, da economia… Muitas vezes, nas entrelinhas dos discursos de outrem, notamos implícitas punições aos argumentos e reflexões contrários aos hierarquicamente superiores a nós no âmbito universitário – o que é um grande empecilho ao desenvolvimento da livre construção e reconstrução do pensamento no âmbito propício e vocacionado para tal que é a universidade.
Confesso que escolhi retornar para a academia, em 2019, em um contexto de frequente crítica social e política às funções e contribuições que a universidade oferece à sociedade, justamente por sentir, em meu cotidiano, a falta de um espaço livre para pensar o que eu quiser pensar (as redes sociais já não servem mais para esse fim) e, por meio de uma co-construção, assentada em diálogo, debate, convergências e divergências, contribuir para com um possível sincero refletir sobre o meu objeto de pesquisa o qual possa colaborar, a posteriori, com o desenvolvimento cultural, social, político e econômico do Brasil.
Sim, sou um sonhador e nem sempre realista. Utópico? Talvez. Mas, se a universidade não for o espaço para o exercício das liberdades e, principalmente, do livre pensar, talvez o meu lugar de fala não esteja apropriado ou talvez a universidade necessite exercer com mais atenção e democracia o seu lugar de escuta. A juventude tem, sim, potencial para transformar o Brasil: basta que tenhamos o nosso lugar de fala garantido e, mais ainda, que tenhamos o nosso lugar de escuta respeitado. Somos a esperança de reconstrução da democracia nesse país tão rico, porém tão desigual, inclusive no poder da palavra.
*Bruno do Vale Novais é doutorando no Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade da Universidade Federal da Bahia (UFBA), onde realiza pesquisa sobre diplomacia cultural na contemporaneidade. E-mail: produtorbrunocultural@gmail.com.