O Aldrabão

Por Fabiano dos Santos Piúba*

O Aldrabão é aquele que diz que são os indígenas e caboclos que queimam as florestas, quando os satélites revelam que os focos de incêndios estão associados às ocupações irregulares da agropecuária. Os povos indígenas são os guardiões das florestas porque elas são solos sagrados com sua fauna e flora.

O Aldrabão é aquele que diz que nossa produção agrícola alimenta o mundo, quando sabemos que o país voltou ao Mapa da Fome. O Aldrabão é aquele que diz ter uma política ambiental exemplar, quando estimula a devastação em áreas de preservação e em terras indígenas com a passada da boiada e da exploração de minérios.

O Aldrabão é aquele que diz pagar em torno de 1000 dólares, um benefício que está longe desse valor, quando ele combateu a iniciativa até perceber a moeda política que estava em jogo para sua benesse e não, exatamente, para o beneficiário. O Aldrabão é aquele que não usa máscara e provoca aglomeração em meio a uma pandemia, receitando sem ser médico, falando em nome de uma suposta ciência, quando age como um pandemônio.

O Aldrabão é aquele que discursa em defesa da democracia e da liberdade de expressão, quando em plena luz do dia participa de eventos antidemocráticos que atentam contra o estado de direito, ameaça jornalistas por lhes fazerem perguntas incômodas e criminaliza as artes e os artistas.

O Aldrabão é aquele que se considera um messias com seu Cristo armado até os dentes, sorrindo com crianças brincando de arminhas com os dedos das mãos, fazendo-se de vítima com uma tal cristofobia, mesmo perdoando dívidas e sonegações de igrejas cristãs em um estado laico. Vale recordar que Cristo, Tupã, Oxalá, Ogum, Alá, Iavé, dentre outras tantas manifestações divinas, são religações do ser humano com o sagrado em sua diversidade.

O Aldrabão é aquele que mente. Sabe que está mentindo, fazendo uma cara de quem está mentindo, mas imaginando serem verdadeiras suas palavras, porque criou um universo paralelo onde muitos outros aldrabões acreditam existir, como se fosse um país só para eles.

*Fabiano dos Santos Piúba é escritor e historiador. Doutor em Educação e Mestre em História.

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